quinta-feira, 8 de abril de 2010

Dizer adeus a uma forma de felicidade




Nunca foi fácil para mim dizer adeus. Com o tempo tem-se tornado cada vez mais difícil. Mas o mais difícil de tudo, a roçar o doloroso é despedir-me de uma forma de felicidade.
Tenho para mim que cada um de nós enfrenta muitas formas possíveis de felicidade. Felicidades distintas, é certo, mas ainda assim felicidades.
Tenho exemplos: conheço pessoas que imagino facilmente a gerir um bar de praia ou a dar aulas de surf num qualquer lugar paradisíaco e que sei até já terem ponderado algo do género em certo ponto da sua vida e, no entanto, vivem a sua vida pacata e felizmente (estou certa!) em Lisboa, com mulher e filhos e a serem excepcionais naquilo que fazem. Optaram por uma forma de felicidade (igualmente válida) em detrimento de outra.
De facto, irrita-me e, acima de tudo, assusta-me o fatalismo do "único caminho para a felicidade de cada um". Prefiro pensar (e a vida têm-me dado fundamentos para continuar a fazê-lo) que existem vários caminhos. E que nós temos a capacidade, o jogo-de-cintura de nos conseguirmos adaptar (ou não) aos presentes ou patadas que a vida nos vai atirando para o caminho.
Esta despedida da Patagónia (apesar de ainda ir a Calafate, a Patagónia para mim é isto) representa muito mais do que apanhar um autocarro ou avião para mim.
Em toda a minha vida de viagens este foi um sítio (talvez o primeiro e único) no qual facilmente me imaginava a viver. A ficar. A quedarme. A ter uma quinta e criar cavalos para jineteadas, a fazer levantamentos fotográficos das comunidades mapuches ainda existentes, a poder andar a cavalo e tirar pelo menos 1 boa foto todos os dias. Fácil, fácil...
A perder-me a olhar para este céu que, talvez por estar mais perto de um polo, é mais abobadado, mais extenso, está mais perto, quase ao alcance de uma mão.

Nesta Patagónia de céu esticado deixo uma parte de mim. A que podia ter sido feliz cá.

3 comentários:

  1. Se bem que o ditado avisa-nos para não voltar ao sítio onde já fomos felizes, porque não acreditar no regresso a um sitio onde ainda poderemos vir a ser ainda mais felizes?
    Adorei o texto.
    Boa viagem miúdas.

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  2. Está lindo o texto...como sempre, ainda bem que não estou aí porque estaria com certeza a chorar que nem uma louca...!!!
    Força miudas!!!
    Beijas ines b.

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  3. Adorei a mensagem... Disses-te tudo!
    Cada fotografia que aqui pões dá-me cada vez mais vontade de visitar esse país.
    E ainda ponderamos fazer ai a nossa lua-de-mel, mas fica para outra viagem...
    Beijinhos grandes e aproveita

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