segunda-feira, 26 de abril de 2010

Esquecimento

Aqui a sensação de que as coisas são abandonadas à sua sorte com o tempo não me abandona. Com o tempo certo decorrido, virtualmente tudo se pode desfazer, liquefazer, desaparecer. Aqui, na Patagónia Chilena, o tempo é rei e senhor. O tempo-clima comanda, o tempo-horas obedece. Está a nevar? Esperamos. O autocarro já passou? Esperamos. Tenho a sensação de que há quem se canse de esperar e se converta em paisagem. É o avião, cuja fuselagem se esqueceu que foi branca e aerodinâmica para poder camuflar-se no mato...

O barco que se esqueceu de como ter por chão água, e que acaba por encaixar tal-qual uma rocha ribeirinha. Não parece barco, não anda como barco, não tem cor de barco. Olhem bem! Uma rocha...

Ou este que decidiu abandonar-se onde melhor se podia disfarçar.

Ou ainda esta carrinha que espreita neste mato de plantas-movediças ao lado duma estrada, vendo os que passam e suspirando pelos tempos .

Alguém duvida que estas conchas ou restos de conchas sempre estiveram aqui? Esquecidas, vazias, estando.

Perigosa esta Patagónia Chilena... Terra de arrastos, de quedanços, paragem de ficagens, de coisas que ficam, de coisas que se desfazem, liquefazem, integram.


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