quarta-feira, 7 de julho de 2010

Down the Amazon

A minha ida para Letícia teve como principal objectivo apanhar um barco. Um barco que desce o Amazonas até Manaus, travessia essa que demora 4 dias (de Quarta a Sábado). Não há muitos luxos, sabia que ia ter de me preparar para dormir numa rede, apertada no meio de centenas de pessoas e, acima de tudo, sem poder ir a lado nenhum durante 4 dias! A minha fase de preparação mental teve como resultado ficar agradavelmente surpreendida quando entrei a bordo.

O Tom também vem. Então o primeiro passo (ainda em Letícia) era ir às compras. Assim fizemos. Antes de mais, uma rede (check), depois cordas para pendurar a rede (check), depois supermercado. Aqui, cada um arrancou (cesto na mão) pelos corredores fora, em busca dos items (que cada um considerava) essenciais para manter a sanidade mental durante a viagem. Quando foi a altura de pagar, com pequeníssimas diferenças, tínhamos escolhido as mesmas coisas. O que já é um bom começo. Alguém que tem as prioridades em ordem. A nossa lista consistia em:

- Bolachas ( a minha contribuição)
- Batatas fritas (a do Tom)
- Doces (Tom, again)
- 1 volume de cigarros (para cada um)
- 1 garrafa de rum (para cada um).

Isto porque no barco já servem pequeno-almoço, almoço e jantar. Também há água. Posto isto, preparámos tudo para embarcar no dia seguinte ao meio-dia.
Fomos para o porto com antecedência, porque a fronteira Colombiana não é das mais fáceis do Mundo (vá-se lá saber porquê!). E ainda bem, pois despachámos os polícias e os cães, o desfazer e refazer a mala (explicando tudo muito bem explicadinho, "o que é isto?", "café", e "isto?" "e aquilo?"), e a body search (oh yeah) com relativa rapidez.

Chegados ao barco. Montámos casa e gozámos os únicos momentos relativamente à-larga no barco.



Os restantes dias foram passados entre redes, convés e jogos de Mundial (sim! Tínhamos TV (qualidade péssima, mas quem é que se queixa?) quando estávamos perto da margem. Foi da maneira que o Tom pôde assistir à agonizante prestação da Inglaterra contra a Algéria e ficar de mau humor o resto do dia.

Tínhamos ainda outro entretém. As minhas vizinhas de rede da direita. A Mayana e a sua mãe Mayara (como é bom de imaginar, passei o tempo todo a trocar-lhes os nomes!). A miúda é um doce e ficámos (diz ela!) grandes amigas. A mãe é uma lição de vida. Tem 23 anos, mas a Mayana já é a sua 3ª criança. Tem mais 2. Casou a 1ª vez com... Adivinhem!... 13 (!!!!) anos. Nas pequenas localidades que polvilham a margem do Amazonas isto não é incomum (como me explicou ela). Não existe o conceito de "namorar". Se pegou, já leva. Claro que esse casamento não resultou. Depois conheceu o Wilson (o actual marido), apaixonaram-se e... pronto! Esta viagem é para ela o culminar de uma longa luta judicial pela custódia da miúda e o início duma vida com o marido e os 3 filhos todos juntos. Mal cabe na sua franzina estrutura de felicidade. E a relação delas! Poucas vezes vi uma criança a ser tão, mas tão carinhosa com a mãe (e vice-versa) como esta.

História de uma conquista (a da confiança dela) em imagens:




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