segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Viagem ao centro da alma

Sempre que se termina uma viagem, termina-se muito mais do que uma viagem. E inicia-se muito mais do que um regresso. Terminam-se mentalmente todas as viagens que já se fizeram. Iniciam-se mentalmente todos os inícios que estão ainda à nossa frente.

Preenchemos o espaço novo, o capítulo em branco da alma, o espaço que ganhámos ao vácuo. Preenchêmo-lo com tudo aquilo que somos agora. Um novo eu. Acomodamos as diferenças. Que são consequência das novas memórias, das novas experiências, dos novos momentos (aqueles que gostaríamos de roubar ao tempo e expôr nas paredes da nossa rotina). Mas que também são consequência das novas experiências e novos momentos vividos à distância com as velhas pessoas. As antigas, as confortáveis. Preenchêmo-lo com as sensações, cheiros, sons e acima de tudo com as pessoas que conhecemos e as histórias das suas vidas que ouvimos.
Acomodamos isso tudo na alma, para que façam parte de nós.

E avançamos de inícios em inícios e de fins em fins. Continuamos a viver. Como eu disse no início, não acho que a vida seja "o que acontece entretanto", enquanto estamos ocupados com outras coisas, como contas para pagar e roupa para lavar e crianças para educar e trabalhos para ter e fazer. Que triste se assim fosse... Penso sim que a vida é o que acontece entretantas... coisas! Como todas essas e vulcões e montanhas para escalar, nasceres e pôres-do-sol de cortar a respiração, pessoas para amar, pequeno-almoços levados à cama ou engolidos à pressa atrás dum volante, em banheiras cheias de espuma ou banhos em lagoas formadas pela água da chuva, e jogos de futebol para ganhar e discussões com amigos para perder. E rejeições e elogios. E choros e risos e tristezas profundas e alegrias explosivas. E perdas. De pessoas e de autocarros. E ganhos. De tempo e de riqueza. Da que está no banco e da que está na alma.

Assim continuamos. E, se formos humildes e espertos, percebemos a beleza dos inícios e dos fins. Em como em cada fim, há também um início. Em como nada é só um fim, nada é só um início. Tudo é uma viagem!
Por isso... viajo! De olhos abertos, a sonhar, através de livros, a ouvir uma música, parada no trânsito, numa noite de copos, num dia de praia, entre o sonho e o toque do despertador, dentro do país, dentro da alma. Vá para fora cá dentro!
Para que um dia a minha neta me pergunte se sou feliz como eu faço à minha avó e lhe possa dar a mesma resposta: "Então Não Havia de Ser?"

E aqueles de vós que me conhecem, que conhecem a vida e a vivem, de olhos abertos, atentos, vão conseguir ler nos meus olhos todos os dias, cada amanhecer, as ruas de Buenos Aires, os vinhos de Mendoza, os trekkings, o Perito Moreno e o farol de Ushuaia, os Miúdos de Junin e o Anderson, Santiago e os graffitis de Valparaíso, o deserto mais árido do Mundo e um deserto rodeada de sal a uma Sexta-feira. Machu Picchu e surfistas no norte do Perú, plantações de café colombianas e polícias armados até aos dentes, guanacos e condores e avestruzes e pumas. Palavras soltas em mapuche e em quechua. E um caimão e um banho e um barco no Amazonas. E a Mayana e a mãe. E uma rede que foi cama e casa 4 dias e 4 noites. E os lençois maranhenses. As festas juninas em São Luís e o pôr-do-sol na duna em Jericoacoara. E as praias de Jacumã. O Mundial 2010. E a ponta mais oriental da América do Sul. E a mais a Sul e Oeste também. E queijo com goiabada. E picanha. E sambinha. E chorinho. Forró e Orishás. Yemanjá e mar e terra. E praia. E montanha. E conversas com gente desconhecida mas que não são estranhos. E aprender a ouvir. E aceitar. E dores de músculos vitoriosas. De quem que foi lá e viu. Ao cimo da montanha e à Lua. E Todo o Rio de Janeiro. No meu bolso. Na minha mochila e na cabeça...

Sim... Tudo isto (e muito mais) vão ler nos olhos quando a minha boca responder à vossa pergunta com um simples: FOI BRUTAL!"


À I.: Não conheço pessoa com quem gostasse mais de ter partilhado esta experiência. Não digo que não partilhe mais o meu dia-a-dia com outras pessoas (pelos menos até aqui). Sei que também tens outros amigos (e fantásticos! e possivelmente melhores). Só digo: Não conheço pessoa com que gostasse mais de ter partilhado esta experiência. Obrigada!

6 comentários:

  1. Russa,
    sempre admirei a forma como escrevias e demonstravas tão bem o que estavas a sentir. acho que desde que te conheço que sempre tiveste esse dom... e não se pode dizer que te conheça ha dois dias, mas talvez há mais de 14 anos...
    Amei este teu post, acho que disseste tudo e mostraste com todas as letras que vens realizada e isso para mim é tudo! Boa viagem, e estou cá para te receber de braços abertos!!!
    Beijinhos

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  2. Obrigada Joana! Por partilhares todos os inícios e fins e a alma e o coração cheios de emoções!!
    Beijos e bom regresso

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  3. Fantástico Joana!!
    Mais uma vez Parabéns!!
    Bjs Russo

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  4. Muito obrigada por terem acompanhado. Os vossos comentários justificam cada minuto passado atrás de um computador a escrever. Beijinhos

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  5. Simplesmente bonito. Suas palavras sao magicas. Vocé coloca cores e poesía em suas vivencias. Adorei o blog. Espero mais de aquela pessoa que saiú a correr atras do mundo e que o mundo le espera para percorrer mais ainda.
    ¡O melhor para vocés! Desejo compartido pela gente de Junin de los Andes (um lugar que merece viver de novo). Obrigado pelo tempo aquí. Fiquem sabindo que o mungo é uma casa, que Junin é um Jardim, as flores continuam sua vida e esperam por ser "cheiradas"

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  6. Fiquei com o coração aos pulos! Que bela descrição da vida!

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